As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Parte II

quarta-feira, 28 de setembro de 2011 § 0

Após se apresentarem, Straw quis saber o porquê do nome de Little Ant:
– Mas eu nunca vi formiga tão grande como você...
– Começaram a gritar esse nome quando me viam lá de cima – ela respondeu, entristecendo-se...
– Ah, mas eu conheço uma tesourinha que pode cortar as asinhas dessas engraçadinhas. Há uns cinco dias atrás eu estava para dormir em cima de um tronco caído, quando vi a tal tesourinha sair de uma fenda da madeira, sorrateiramente. Fiquei observando ela subir numa planta e indo em direção a uma flor copo-de-leite virada para baixo... Hum, a flor era vermelha... Ou era lilás? Ah, já estava escuro... Mas sei que a flor era escura! Aí ela chegou bem na pontinha e olhou com muita atenção para baixo. Depois voltou para a fenda, demorou alguns instantes lá, e surgiu novamente com um pedaço de... Não sei o quê... Mas colocou aquilo bem embaixo da flor, e então, retornou a ela. Ficou aguardando lá em cima da flor até que um vaga-lume, que estava rondando por ali, atreveu-se a ir buscar a isca. Quando ele estava lá, deliciando o banquete, a tesourinha engenhosa cortou o pedúnculo da flor e caiu junto com ela sobre o vaga-lume. Acredita que ela conseguiu prendê-lo dentro daquele cone? Pois é, prendeu! E aí desabafou: “Quero ver agora você atrapalhar meu sono com seu pisca-pisca!”.
– Olha! O rio está logo ali – disse Little Ant, esquecendo-se do caso.
– Uau... Como é grande! – Straw observou.
– Mas você não o conhecia? – ela perguntou, decepcionada.
– Não. Nunca viajei por esses lados – ele respondeu, ainda perplexo com o rio.
– Mas você sabe como eu vou atravessá-lo? Ai, ai, ai! Eu já vejo algumas nuvens!
– Nem mesmo o gafanhoto campeão da associação dos saltitantes poderia pulá-lo; o único jeito é voando!
Little Ant começou a ficar nervosa. Inconformada, andava de um lado para outro gesticulando algo incompreensível. Straw, desesperado, desceu o rio com esperança de encontrar um lugar propício para que Little Ant o atravessasse. Como era de se esperar à falta de inteligência dele, quanto mais ele descia, mais se acumulava água no rio, que ficava com o leito ainda mais largo.
Nessa trajetória, Straw encontrou uma mutuca. Ele tentou pedir-lhe informações, mas ela voava freneticamente em sua volta sem dar-lhe atenção. Straw ficou irritado por causa do zumbido ensurdecedor que ela fazia, mas principalmente porque se sentia humilhado com a velocidade daquele voo.  Para se sentir melhor, resolveu fazer piadinhas sobre o fato de ela ter apenas duas asas. A mutuca parou, fez uma careta, e sumiu no horizonte. Por alguns instantes se fez um silêncio apavorante, mas em seguida foi quebrado por um altissonante enxame de mutucas que vinha ao longe. Straw arregalou bem os olhos, percebeu a encrenca na qual se tinha metido, e disparou em direção à grande formiga.
Little Ant já estava tremendo de medo por causa dos ventos que se intensificavam; procurava desesperadamente por um abrigo que lhe livrasse do imaginário perigo das chuvas. Finalmente, avistou um pequeno buraco numa pedra enorme, e calculou ser de tamanho suficiente para adentrá-lo. Quando corria para lá, Little Ant ouviu os gritos de Straw. Olhando para trás, ela avistou também o enxame de mutucas, o que a fez acelerar ainda mais.
Os pingos começaram a cair quando Little Ant estava se espremendo na tentativa de entrar no abrigo, o que se concretizou com a ajuda de uma trombada do medroso Straw. Nesse instante, os céus abriram suas comportas, e despejaram uma chuva forte suficiente para dispersar até a última mutuca.
Ambos ficaram em silêncio dentro do buraco; um imaginando como aquele fenômeno sombrio lhe fazia temer a morte, e o outro, maravilhado por ter-lhe salvo a vida. 

(Wesley Rezende)

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