Os traços da poesia de Gregório de Matos
são fiéis aos padrões conceituais do Barroco. Essa íntima ligação não poderia
ser diferente, uma vez que ele firmou-se como o primeiro poeta brasileiro, e a
sua poesia serviu de objeto para delimitar-se as características do período
literário em questão.
O cultismo, ou seja, composições em que rima,
métrica, ritmo e formas são indispensáveis, e servem para enfatizar as
representações poéticas e ideológicas utilizando-se exaustivamente de figuras
de linguagem e de pensamento, está presente na obra de Gregório de Matos. Como
podemos observar em “Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a
quem queria bem”, um soneto com versos decassílabos e rimas interpoladas, no
qual encontramos antíteses “Ardor/pranto”, “fogo/neve”; paradoxos “Incêndio em
mares...”, “Rio de neve em fogo...”; e metáforas “fogo” e “neve”, que
representam a relação inconstante com a dama.
Mas não podemos nos esquecer de
enfatizar as representações ideológicas. Gregório de Matos utilizava-se da poesia para
expressar sua insatisfação com a relação metrópole/colônia. Em sua poesia
satírica expôs a revolta pela exploração incessante, como percebemos no trecho
“Valha-nos Deus, o que custa / O que El-Rei nos dá de graça, / Que anda a
justiça na praça / Bastarda, vendida, injusta”. Ora, mas Gregório defendia
também suas convicções religiosas, o que talvez seja uma característica poética
adquirida em seu convívio com os jesuítas: “Eu sou, Senhor, a ovelha
desgarrada, / Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, / Perder na vossa ovelha
a vossa glória”.
Por fim, o que sempre aparece numa
antologia, intencionalmente ou não, o lirismo. O poeta barroco não deixou de
expressar suas angústias por causa do amor não correspondido, e também seu
gosto pela beleza feminina:
“Parece
aos olhos ser de prata fina?
Vês
tudo isto bem? Pois tudo é nada
À
vista do teu rosto, Caterina.”
(Gregório de Matos)
(Gleiciele Ap. Ferreira e
Wesley Rezende)