Archive for maio 2012

Seção Poema — Imagem Viva

quarta-feira, 16 de maio de 2012 § 2

Imagem Viva

Deram a notícia equivocada
e inevitavelmente cresceu algo
opaco e desavisado no olhar
despretensioso dos surpreendidos.

Criaram-se mundos multiformes
com vilões mutantes, irreconhecíveis.
Tudo em tempos e dimensões relativos
à duração das ondas de uma mentira.

(Wesley Rezende)

Análise — A Poesia de Gregório de Matos

domingo, 6 de maio de 2012 § 0

Os traços da poesia de Gregório de Matos são fiéis aos padrões conceituais do Barroco. Essa íntima ligação não poderia ser diferente, uma vez que ele firmou-se como o primeiro poeta brasileiro, e a sua poesia serviu de objeto para delimitar-se as características do período literário em questão.
O cultismo, ou seja, composições em que rima, métrica, ritmo e formas são indispensáveis, e servem para enfatizar as representações poéticas e ideológicas utilizando-se exaustivamente de figuras de linguagem e de pensamento, está presente na obra de Gregório de Matos. Como podemos observar em “Aos afetos e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem”, um soneto com versos decassílabos e rimas interpoladas, no qual encontramos antíteses “Ardor/pranto”, “fogo/neve”; paradoxos “Incêndio em mares...”, “Rio de neve em fogo...”; e metáforas “fogo” e “neve”, que representam a relação inconstante com a dama.
Mas não podemos nos esquecer de enfatizar as representações ideológicas.  Gregório de Matos utilizava-se da poesia para expressar sua insatisfação com a relação metrópole/colônia. Em sua poesia satírica expôs a revolta pela exploração incessante, como percebemos no trecho “Valha-nos Deus, o que custa / O que El-Rei nos dá de graça, / Que anda a justiça na praça / Bastarda, vendida, injusta”. Ora, mas Gregório defendia também suas convicções religiosas, o que talvez seja uma característica poética adquirida em seu convívio com os jesuítas: “Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, / Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, / Perder na vossa ovelha a vossa glória”.  
Por fim, o que sempre aparece numa antologia, intencionalmente ou não, o lirismo. O poeta barroco não deixou de expressar suas angústias por causa do amor não correspondido, e também seu gosto pela beleza feminina:
 
“Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Caterina.”
(Gregório de Matos)
(Gleiciele Ap. Ferreira e
Wesley Rezende)

Seção Poema — Eu Gorila

§ 0

Eu Gorila

De forma informal meu sono pesado
findou meu desejo por sonhar acordado.
Meu dia é concreto em minha vida perdida;
o presente é composto de alegrias banidas.
De maneira casual, sofro em noites tranquilas
com pesadelos que, nas manhãs tardias,
me fazem acordar como um gorila.

(Wesley Rezende)