Seção Poema — Paixões de Poesia

quarta-feira, 13 de julho de 2011 § 5

Paixões de Poesia

O alicerce da minha poesia
é um tamborete marrom e manco;
sobre ele um grupo anestesia
os pensamentos de um homem franco:

São as letras organizadas numa
lógica mecânica, ignorada;
às vezes irritando, por nenhuma
evitar da mente ficar parada.

Sob as quatro pernas há um crochê,
redondo, enrugado e com furos.
As linhas entrelaçam meus clichês,
e o desenho adorna meu futuro.

De repente, ganho alguns presentes:
ideias, frases, sonhos e canções.
E aí, da geringonça nascem entes
que dão vida às paixões nascentes.


Do-dia

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§ 5 Response to “Seção Poema — Paixões de Poesia”

  • O alicerce...

    Sou eu do avesso, certa, errada, desvairada, sem nexo, com linhas, sem linhas, feliz, infeliz...Um baú sem tampo, só palavras...

    Até...

  • Por isso adoro seus textos...
    por serem parte da sua essência.

    Beijo.

  • Ravel says:

    Grande Wesley!!! Gostei tanto desse poema que vou até emitir umas censuras em público, rs. Censuras não, opiniões contrárias. Mas não vou dispensar os elogios: o grande mérito, eu acho, foi você ter aliado o preciosismo e o tema paransianos com uma transpiração sentimental muito sutil, uma espécie de timidez romântica (romantismo, talvez, nos dois sentidos, rs), que se insinua nas três estrofes iniciais até emergir, de ato, na final. Vou tomar a primeira estrofe como exemplo: na rima, belíssima, de manco com franco, este adjetivo dá uma densidade um pouco supreendente ao descritivismo de todas as palavras que o antecedem.
    Dito isto, rs, os poréns: acho que o fecho da segunda estrofe não deu certo. o fecho e a rima (então o segundo verso também é problemático), que é muito pobre, destoando do contexto formal do poema. Rimas pobres - expressão, aliás, bem preconceituosa - podem ser bonitas também, mas no contexto certo. Em todo caso, o quarto verso também é estranho pela falta de coesão. O que salva um pouco a pátria é você ter se referido a clichês na bela estrofe seguinte.
    No mais, uma correção gramatical (eu cobro como revisor, depois vc me paga, rs): NASCEM entes, ó ente sapientíssimo!!!
    E por último, aí sim, uma mera opinião "artística": eu teria fechado com "paixões nascentes". É mais clichê, perde a simetria da estrutura A-B-A-B mas ia ser muito legal, porque ia ficar mais fluido e, no fundo, a rima com paixões ia permanecer, num lance parecido com aqueles do Bandeira que eu trabalhei com vocês, lembra?
    Mas deixa a sugestão pros leitores brincarem de jogo de armar, como diria o Tom Zé.
    É isso aí, meu amigo. Bola pra frente, sem desanimar nunca e melhorando sempre. Você é um exemplo pra todos nós. Um grande abraço!

  • Poxa Ravel! Fiquei muito contente com o comentário. Mas vou tentar justificar a construção – vamos ver se consigo (risos).

    Numa primeira interpretação, o poema sugere um computador (“geringonça”) em cima dum tamborete. Nele as letras ficam paradas, mas a função é dinamizar. No entanto, às vezes não consegue cumprir essa função, e aí não consegue “evitar a mente ficar parada”. Como esta ferramenta mecânica não é perfeita, não merece uma estrofe “perfeita”. É uma construção similar ao que eu fiz no poema Corrida de Rua, no qual a última estrofe é desleixada, sugerindo a falta de sentido ou vazio na vida. Mas agora a essência é a falta de ritmo, justamente para elucidar esse contraste entre estagnação e dinamização.

    Rapaz... eu estava com a ideia da cacofonia, e evidenciar ela no último verso, e aí nem lembrei de ortografia (risos). Mas vai se acostumando a me corrigir... acho que segunda te mando um rascunho da apresentação do projeto.

    Ah! vou modificar o poema em sua homenagem. E fica como pagamento pelas correções (risos).

    Forte abraço.

  • Ravel says:

    Hum, eu não havia sacado o lance do computador... Então, acho que redime a "famigerada" segunda estrofe. E, caramba, obrigado por seguir a sugestão do fecho! Me sinto um coautor, ou seja, quase um poeta... Grande abraço!