Archive for outubro 2011

Seção Poema — Cem

quinta-feira, 13 de outubro de 2011 § 0

Cem

Sentei à beira de um rio vermelho
Vi a vida passar sem nenhum segredo

Sem sonhos
Sem medos
Cem ideias

Centopeias tentavam sequestrar-me a realidade
Sentinelas zumbiam racionalidades incômodas

Sentimentos
Sensabores
Centésimos

(Wesley Rezende)

Dístico — Melaço

quarta-feira, 12 de outubro de 2011 § 0

Melaço

Meça nessa mesma mesa mesclada
Meias medidas de mensagens melódicas.

Wesley Rezende

Seção Poema — Dois erros

domingo, 9 de outubro de 2011 § 2

Dois erros

Construí, com o que havia de sublime
numa montanha de ideias mal compreendidas,
duas páginas de entreterimento
para quem venera formalidades.

Mas o reconhecimento do meu trabalho
sofreu defazagem de dezesseis vírgula
seis, seis, seis... por cento.

Esses dois erros justificaram
as várias mediocridades de quem
nunca irá compreender o valor da liberdade.

Wesley Rezende

Seção Poema — Circo da Vida

terça-feira, 4 de outubro de 2011 § 4

Circo da Vida

Vendo a vida bem pequena
Vendo a morte bem serena
Vendo sonhos em arenas
Vendo emas e hienas

Wesley Rezende

As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Texto Completo

segunda-feira, 3 de outubro de 2011 § 0

            Para ler, ininterruptamente, clique neste link referente ao texto integral no Google Docs (não é necessário fazer login).

As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Parte Final

§ 0

– Straw! Você as vê? Straw! Você as vê?! – Little Ant repetia compulsivamente.
– Agora! – gritou Straw, assinalando o momento do ataque para as formigas plumosas.
Little Ant parou. Ela ficou confusa por causa do grito.
Mas as formigas plumosas não tiveram atitude alguma. Straw percebeu que elas olhavam fixamente num foco acima dele. Quando ele, também, direcionou seu olhar para esse foco, percebeu que havia um marimbondo amarelo pairando, tendo-o na mira.  Era um mercenário contratado pela abelha rainha, tinha um único objetivo: vingança.
O marimbondo se arremessou em direção a Straw. O percevejo imitou a ação, mas em direção a Little Ant. Ele imaginava que o tamanho dela era suficiente para espantar o predador. Mas não houve escapatória, ambos foram capturados pelo marimbondo, que partiu, com eles, num voo insano.
Straw entrou em pânico, mas Little Ant não sentiu medo; ela estava fascinada com seu primeiro voo.
No desespero, Straw furou uma das pernas do marimbondo com seu estilete, o que o fez, inevitavelmente, soltar Little Ant. Ainda sendo o bastante, o mercenário prosseguiu sua viagem apenas com Straw...
Little Ant caiu num descampado, e ficou desacordada por algum tempo. Enquanto isso, ela tinha alucinações com a imagem de zebras voadoras.
Borboletas pousaram sobre Little Ant e, cuidadosamente, lamberam o mel de suas asas. Quando acordou, ela viu milhares e milhares de borboletas zebradas formando um nevoeiro no céu.
– Vocês podem me ensinar a voar? – Little Ant implorou, num último suspiro de esperança.
Daquela multidão, uma voz lhe dirigiu:
– Bata as asas!
Delicadamente, Little Ant experimentou movimentar as asas, e percebeu que elas já não estavam presas como antigamente. O ritmo de suas batidas aumentou e, naturalmente, ela conseguiu alçar voo.

(Wesley Rezende)

As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Parte VI

domingo, 2 de outubro de 2011 § 0

Finalmente chegaram aos campos, mas não encontraram nenhuma zebra. Enquanto Little Ant chorava, meio afastada, à beira de uma lagoa, Straw partiu em busca de um comparsa para ajudá-lo a cortar as asas de mel. Ele encontrou uma dupla de formigas plumosas, com beleza capaz de eliminar qualquer suspeita. Elas estavam cortando uma folha espessa, aparentavam ser perfeitas para o serviço. Havendo combinado repartir a iguaria e marcado outro encontro para ajustarem os detalhes do bote, Straw retornou para Little Ant.
Ele a encontrou conversando com um percevejo d’ água, que havia se compadecido com o choro dela.
– Eu tenho que ir embora, mas nos encontramos na festa. Não falte, você precisa se distrair um pouco – disse o percevejo d’ água, despedindo-se.
– Quem era? Festa? – Straw indagou.
– Acabei de conhecê-lo. Vamos a uma festa, e é bom partirmos agora, porque andando chegarei lá já no início.
Após conversar um pouco mais com Little Ant, Straw alçou voo dizendo que iria ver se já estavam chegando, no entanto, ele foi encontrar-se com as formigas plumosas para informar-lhes o local da festa.
– Little Ant, já estamos chegando! – disse Straw, após retornar.
O salão da festa era um enorme oco de uma árvore. Os anfitriões eram insetos xilófagos, que sediavam no local uma associação.  Havia comida de diversas naturezas, exceto mel. Mas alguns cupins contavam alegremente como tiveram sorte em encontrar mel dentro de um graveto.
Irritado com essa história, Straw apressou-se em por seu plano em prática.
– Little Ant, eu ouvi uma conversa sobre algumas zebras que estão aqui por perto – Straw mentiu.
Little começou a correr sem direção. Mas estava confiante como se conhecesse todos os caminhos dos labirintos da natureza. Straw a acompanhava, voando logo acima dela.

(Wesley Rezende)

As Crônicas de Little Ant: Uma Jornada em Busca de Liberdade — Parte V

sábado, 1 de outubro de 2011 § 2

– Contem-me algo interessante! – disse-lhes a rainha, quando finalmente foram introduzidos no ambiente.
– Vou declarar os mistérios das zebras voadoras, e todos vocês ficarão perplexos com tamanhas proezas – disse Little Ant.
Todos gargalharam; inclusive Straw, levado pelas circunstâncias.
Little Ant não permitiu que a intimidação prejudicasse a segurança de seu discurso. Concentrando-se ainda mais, ela deu asas à imaginação:
– As listras das zebras constroem uma ilusão de ótica que escondem suas asas. É por isso que a maioria de nós não conhece a capacidade que elas têm de voar. Mas elas voam! E por que vocês nunca viram? É porque elas voam apenas enquanto chove forte. Mas vocês se escondem quando chove, não é?
Todos gargalharam ainda mais. E em meio às risadas, a abelha rainha disse:
– Podem ir. A lembrança de tamanha tolice é suficiente para me divertir por longos dias.
– Little Ant, leve aquele graveto ali. Ele será útil para nós – disse Straw apressando-se em ir embora.
Temendo que a rainha pudesse mudar de ideia, Little Ant e Straw não esperaram as abelhas pararem de rir para partirem. Quando já estavam num lugar distante, Straw sugeriu um breve descanso. Little Ant soltou o graveto e dirigiu-se a uma planta, onde começou a cortar pedaços das folhas. Straw, então, começou a aproximar-se do graveto. Mas antes que chegasse até ele, o graveto começou a andar.
– Little Ant, você não pegou o graveto que te pedi, você pegou um bicho-pau! – esbravejou Straw.
– Mas por que você está tão bravo assim? O graveto não vai nos fazer falta – gritou Little Ant, ao longe.
– Eu enchi aquele graveto oco com o mel daquelas abelhas tolas! Mas agora já deve ter virado banquete para os cupins!
– Então você descobriu o que é o mel. Que bom!... Mas você teve coragem de roubar? – criticou Little Ant, já perto de Straw.
Straw conteve sua fúria quando percebeu que o que prendia as asas de Little Ant era uma porção de mel cristalizado. Instintivamente, começou a formular planos maquiavélicos para conseguir apropriar-se do mel.
– Se preciso for, eu até mutilo essa borboleta das asas posteriores douradas – Straw avaliou consigo mesmo.
O percevejo propôs que prosseguissem a jornada. Straw, crendo que seria a última oportunidade de conseguir mel, não quis precipitar-se contando a verdade a Little Ant.

(Wesley Rezende)