Archive for agosto 2011

Seção Poema — Rio das Mortes

segunda-feira, 29 de agosto de 2011 § 0

Rio das Mortes

Conheço desde criança as tuas margens.
As noites à luz de estrelas e pirilampos
Ficavam aterrorizantes com as viagens
Fantasiosas à beira de campos indígenas.

Os xavantes, que andavam várias léguas,
Transpunham-te a fim de ganharem frangos...
As matrinchãs que subiam as tuas águas
Alegraram as folgas de tantos domingos...

Quando te conheci já haviam te cortado
Numa mão única de concreto exuberante.
Mas ainda era desconhecido nestes lados
Industrializados que só enxergam montantes.

Ontem a tua beleza se anunciou pelos cantos.
Numa fantástica surpresa pude ver a Cachoeira,
E relembrar muitos de teus saudosos encantos
Capazes de livrarem meus olhos da poeira.

Wesley Rezende

Seção Poema — Aviso

§ 2

Aviso

Agora é a hora da tua folga.
Vai! Vai pra tua casa...
Agora que é a hora certa
De se dar ao luxo de perder tempo
Rabiscando alguns versos
Sem sentimentos.

O tempo do proletariado
É ocupado com trabalho.
Mas também, infelizmente,
Com o cumprimento
De alguns detalhes da lei.

Então vai...
Vai se fazer inútil
Nesse momento inútil.
Você tem duas horas
Pra escrever poesias.

Wesley Rezende

Seção Poema — Caprichos

quarta-feira, 10 de agosto de 2011 § 1

Caprichos

Uma sigla disforme materializa
A magnificência alada de qualquer um.
Empresas se erguem de papéis
Fantasiosos que inexplicavelmente
Cumprem o próprio fim.

Wesley Rezende

Seção Poema — Desesperança

§ 2

Desesperança

Atitude inesperada de tua parte
Deixou-me grande parte do dia
Esperando uma resposta afável

Não quiseste seguir no diálogo
Assim jogaste minhas palavras
Na cova lúgubre da indiferença

Tua iniciativa se mostrou vazia
Vazio que repartiu a esperança
De ter sonho maravilhosíssimo

Trajado co' amargo desencanto
Dormi insatisfeito porque o dia
Partiu sem trazer o teu encanto

Wesley Rezende

Seção Poema — Fogo

quarta-feira, 3 de agosto de 2011 § 0

Fogo

Atrevida energia,
que transmuda o infantil
num gerador de cansaço no amigo senil,
espalha no corpo:
magia,
alergia,
algia. 

Wesley Rezende

Seção Poema — Livros que Vieram numa Caixa

terça-feira, 2 de agosto de 2011 § 0

Livros que Vieram numa Caixa

Alguns livros novos acabaram de chegar.
Aprendi, apenas no folheá-los,
Que as estrofes de sonetos
Não precisam ter suas divisões
Claramente evidenciadas;

Que posso aprender mais de línguas
Lendo Hamlet em Inglês, por apenas
Dois reais e oitenta e nove centavos;
E que o mais caro mesmo é o tal do dicionário.

Por oito reais e noventa e dois centavos,
Vou regressar a 1198, e começar a aprender
Sobre a Era Medieval da Literatura Portuguesa:
Duzentas e oitenta e oito páginas
Com aquele cheirinho de livro novo.

Esses livros são mais que inspiração...
São sei lá o que para um aspirante a sei lá o quê.
Muito importantes por já fazerem eu agora saber
Que posso escrever poemas bem livres assim.

Wesley Rezende